quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Vocação e Espiritualidade no Antigo Testamento [Introdução]

Levando em consideração que meu tcc está em fase final de produção, achei interessante postar aqui um pedacinho do capítulo que falo sobre a vocação no Antigo Testamento. O autor estudado é Ágabo Borges de Sousa, ele faz um paralelo entre cinco personagens marcantes no antigo testamento:

Vocação e Espiritualidade No Antigo Testamento

Antonio Jamerson Côrtes

As narrativas de vocação no Antigo Testamento nos levam a refletir sobre quão profundas são as experiências com Deus concernente àqueles que assumem uma postura fora do comum. Homens que fizeram a diferença em sua geração, pois ouviram a voz de Deus e depositaram toda a sua confiança nela. Portanto, escrever sobre espiritualidade e vocação, no ambiente cristão, implica em retornar a uma leitura das Escrituras, da Bíblia, pois essa é a base de toda a teologia cristã, como fonte de revelação.

Os textos, as narrativas devem ser nosso ponto de partida e, ao mesmo tempo, nosso porto seguro, lembrando, porém, que eles são dinâmicos e, por isso, comunicam ainda hoje com grande força de presença e significado.[1]

Uma vez feito isso, é necessário analisar o significado do termo ‘vocação’, pois, ao o usarmos, evocamos uma gama de sentidos entrelaçados, que transcendem, porém, o aspecto religioso de nosso interesse aqui, pois ‘vocação’ estaria ligado ao ‘ato de chamar’, à tendência ou ao talento de alguém no exercício de uma atividade específica. Temos então que quando falamos em vocação, pensamos – especialmente dentro do contexto do Antigo Testamento – no chamado de Deus, no qual o ser humano é convocado a participar de seus planos e ações, e desafiado a estar a serviço desse chamado.

Chamado este, que não tem sua origem na motivação política, sociológica, ética ou psicológica, mesmo sendo a realidade histórica objeto da vocação. “A vocação está fundamentada no mistério da livre ação de Deus em direção ao ser humano, por isso o testemunho se torna um elemento indispensável para sua compreensão”[2].

Já se tratando de Espiritualidade, o termo hebraico, bem como nas línguas semíticas de modo geral, tem como base de sentido, para o que nós chamamos de espírito, a idéia de: “o ar em movimento”. Mas essa idéia levada ao ser humano, especialmente no que diz respeito ao Espírito de Deus no homem, está ligada à experiência de respirar, é o que dá vida à vida. É o poder dinâmico da vida. Segundo Sousa “A espiritualidade seria, portanto, viver no envolvimento com o mais profundo da vida. Então, a experiência com o divino, enquanto criador da vida, pois une os elementos da essência com os da existência. Dessa maneira, um encontro com Deus tem este caráter eminentemente espiritual”[3].

Para esclarecer melhor esta dinâmica, foi feito um estudo sistemático de cinco passagens do Antigo Testamento, que relatam Deus se revelando a cinco homens, os quais foram chamados por Ele. O que é interessante é que todas essas narrativas têm elementos comuns extremamente importantes para a identificação do texto como “narrativa de vocação”. Esses elementos são os verbos enviar e ir, que regem as narrativas, estabelecendo a missão, dando ao comissionado um caráter especial que, nesse contexto, chamamos de vocação, considerando ser a divindade o sujeito do verbo enviar, sendo, assim, aquele que comissiona. Temos então, a seguinte sistemática:

Livro

Êxodo

Juízes

Isaías

Jeremias

Ezquiel

Personagens

(Moisés)

(Gideão)

(Isaías)

(Jeremias)

(Ezequiel)

Texto Bíblico

3.10-12

6.14b

6.8

1.7

2.3,4

Verbo

“Eu te enviarei”

“Não te envio eu”

“A quem enviarei...?”

“...eu te enviar”

“eu te envio...”

Texto bíblico

3.10

6.14a

6.9

1.7

3.1

Verbo

“... vai...”

“Vai...”

“Vai...”

“...irás”

“e vai...”

Note que em todos os cinco casos Deus utiliza esses dois verbos de forma explicita, o que nos leva a entender que é uma espécie de Comissão, seguida do sinal, ou confirmação de que Deus irá usá-los, temos então uma proximidade formal entre essas cinco narrativas, que formam essa ‘narrativa de vocação’.



[1] SOUSA, Ágabo Borges de. Vocação e Espiritualidade. P 16

[2] SOUSA, Ágabo Borges de. Vocação e Espiritualidade. P 18-19

[3] SOUSA, Ágabo Borges de. Vocação e Espiritualidade. P 19

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